sábado, 14 de fevereiro de 2015

Sem a máscara de Carnaval

Justamente durante o Carnaval resolvi tirar a máscara e falar da dor que ofuscou minha alegria.

Esta é também a razão de eu ter ficado tanto tempo sem postar aqui. Quando criei este blog, minha intenção era postar os momentos divertidos e engraçados que minha mãe ainda podia viver, apesar da doença de alzheimer.

Infelizmente, esses momentos não existem mais.

Sempre agradecerei a Deus por permitir que minha mãe não sofra pela consciência da sua condição, mas nos meus ombros, cada sintoma pesa uma tonelada.

Dona Nininha não anda mais, quase não fala, tem episódios de total desorientação cada vez mais frequentes e sua deglutição está seriamente prejudicada. Aquelas respostas ácidas e divertidas não existem mais.

Diariamente, a cada sessão de fisioterapia colherada de comida que lhe dou na boca, cada vez que a levo ao banheiro, dou banho e escovo suas dentaduras... Toda vez que a prisão de ventre me exige cuidados especiais... comprar e organizar os 13 medicamentos, em diferentes horários e dosagens...

Faço tudo com prazer e gratidão pela pessoa que mais amo nesse mundo, porém a aceleração cada vez mais rápida da doença tem sugado minha energia.

Parei minha vida profissional para me dedicar 24h por dia, todos os dias, a esse cuidado, sim, e não me arrependo. Estou fazendo o meu melhor para que ela possa envelhecer com dignidade, cuidando com o carinho com que cuidou de mim. Busco proporcionar a ela uma vida próxima ao que acredito que ela teria caso estivesse lúcida, mantendo suas unhas pintadas, suas roupas combinando e seu cabelo penteado, por exemplo.

Compartilho isso com vocês porque queria poder cuidar dela até o último dia. Adoraria também que esse dia nunca chegasse. Mas lido com o inevitável a cada manhã: minha amada mãe vai embora um pouquinho todo dia. Enquanto aprendo a lidar com o cansaço, a impaciência, a angústia e a tristeza... estou experimentando a terrível sensação do luto em vida.

Um comentário:

  1. Só hoje li este post...mana, não vou dizer que imagino, porque, por mais que queira poder imaginar, é impossível saber o que vc sente. Vc não teve "lua de mel", abriu mão de tudo pela mamãe e, reconheço que não saberia ser tão cuidadosa quanto você.
    Sempre te vi pra cima, forte, lutadora e esqueci de ver sua fragilidade.
    Quero estar mais perto de mamãe, bem mais, assim que voltar a andar sem auxílio. Me sinto sim, devedora, como filha mais velha. Assim que sair da licença médica, estrei mais perto, bem mais e não estou dizendo isso porque li o post, mas, meu coração já estava pedindo isso e já era uma decisão, tomada desde minha internação. Só peço a Deus que te renove a graça sobre a cabeça. E peço a Deus perdão por estar longe, e nem é por distância. Vc e mamãe precisam de mim, vou dar de mim pra vcs. Deus nos abençoe.

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